Pura ficção...
Era uma boa amiga, daquelas que mantém uma distância segura e confortável do sujeito, mas que não pensam duas vezes em pedir que o otário a deixe em Jacarepaguá, o mais remoto dos cafundós do planeta Terra. Menos mal que desta vez, depois de um aniversário qualquer comemorado em meio de semana, seria mais prático dormirmos lá em casa. Aceitou vestir uma camiseta qualquer e, acreditem, uma de minhas cuecas. Após enfiar por sua goela abaixo comprimidos de Engov e Aspirina, por correção política ofereci minha cama, enquanto torturei as vértebras do que me restou de coluna no sofá da sala. Acordei algumas vezes com seus roncos altíssimos, achando que ela poderia estar se afogando em mais uma golfada de vômito verde.
Era cedo quando levantei e desci até a garagem para reparar o estrago da noite anterior. Liguei o rádio do carro, escutei 54 minutos de música sem nenhum intervalo comercial. Limpei o banco do carona e lavei os tapetes, sabendo que o cheiro azedo ficaria ainda por algumas semanas. Na volta, entrei pela cozinha e senti cheiro de café. Concluí que ela já teria acordado e fiquei tranqüilo com a certeza de que não teria se atirado pela janela. Entrei despreocupado. Tranqüilo até demais para perceber a luz do banheiro acessa e a porta totalmente aberta. Sua carcaça ressacada estava sentada no vaso sanitário com o queixo apoiado nas duas mãos e os cotovelos sobre os joelhos. A cueca emprestada, caída no chão, presa entre os seus tornozelos. A camiseta grande lhe cobrindo as coxas por completo, dando-lhe uma certa privacidade.
– Desculpe. Quer que feche a porta?
– Uma fulana aí telefonou pra você. O recado está na secretária. "Aqui é a fulana. Quando você puder, me dá uma ligadinha... meu telefone é blá-blá-blá..." Uma voz de piranha! Deve ser uma das tuas amigas...
– Você é uma das minhas amigas. O que você está fazendo aí?
– Vai ver ela é da Amway ou da Herbalife. O que eu estou fazendo? O que você acha? Olha, estou com uma puta dor-de-cabeça... de mau humor. Sai da porta, sai...
– Não tem nada aí que eu não saiba como é.
– Pode ficar, então. Grandes coisas. Não me importo... – falou tentando disfarçar seu constrangimento.
– Posso ver de perto?
– O que você quer ver?
Em um passo já havia entrado no banheiro. Acompanhou-me com o olhar enquanto me ajoelhei à sua frente. Apoiei então os cotovelos sobre os seus joelhos. Conforme distanciei os braços, naturalmente abri suas pernas. Ela soltou os pés de dentro do tecido que lhe prendia. Levantou a camiseta lentamente, até a altura do umbigo. Deu um suspiro profundo. Escorregou sua mão pela minha cabeça, puxando meus cabelos curtos.
– Você já está cheio de cabelos brancos, sabia?
– Por que você faz isso comigo?
– Você sabe... é tarde demais pra gente. Eu sou como... uma prima para você. Isso, uma prima. Você tem primas? - Perguntou passando o dedo médio sobre os seus pêlos pubianos de pequenos caracóis - Achou ela bonita?
– Sim... é muito bem feita. Sem exageros de curvas, sem aquele rococó desnecessário. Você está de parabéns. É uma bela genitália. Escuta, primos se casam. Me dá um beijo. – sugeri enquanto começava a tocá-la com meu indicador.
– Você sempre insiste nessa história. Olha, entende de uma vez por todas. Amigos não se beijam na boca.
– O que é preciso pra que eu não seja mais teu amigo? Me diz, por favor.
– Só não seria mais tua amiga... não sei ... acho que se você me batesse na cara, porque nunca ninguém me deu um tapa.
Trinquei os dentes e espalmei minha mão contra o seu rosto em um único golpe seco. Seus cabelos acompanharam o baque. Olhou-me com profunda admiração. Seu nariz avermelhou, no início de um choro e rapidamente as marcas dos meus dedos tatuaram a brancura esverdeada de sua pele. Soluçou algumas palavras, com um sorriso no rosto.
– Seu filho-da-puta!
Vi suas primeiras lágrimas quando enfiei minha língua dentro de sua boca que se escancarou. Me mordeu e seu aparelho de elásticos coloridos me cortou a boca. Nos beijamos com dentes se batendo. Toquei suas gengivas com o indicador recém-retirado de sua parte elogiada.
– Sente o teu gosto...
Bati o queixo na tábua da privada quando busquei seu sexo. Afastei o rosto para observar uma dessas posições que só as mulheres conseguem. Deitou-se sobre o vaso sanitário, apoiando os pés sobre a parede atrás de mim. Controlada do choro, me pediu para que eu cuspisse na mão e esfregasse a saliva em seus seios.
– Me sinto uma puta!
O português não foi dos mais castiços. Melhor tirar as crianças da sala.
– Mete a mão na minha cara porque eu não quero nada de amizade entre nós. Bate! Bate, porra! Bate que eu estou mandando.
Algo que enerva um homem é uma mulher mandona. O segundo sopapo deu-se com a mão invertida e, desta vez, sua cabeça resvalou na parede, fazendo um som de oco. Rapidamente fiz uma promessa a São Longuinho para que não a perdesse. Por segurança a trouxe para o chão do banheiro, de onde não passaria, segundo o dito popular. Senti que meus joelhos ficariam todos marcados pelas juntas do piso, como medalhas de guerra.
Rotacionou o corpo, colocando-se de quatro. Olhou para trás, me procurando por alguns segundos até que finalmente o coito concretizou-se em penetração indelével. Abaixou a cabeça, falando uma série de palavrões impublicáveis. Determinados processos, depois de iniciados, tendem a resolver-se de maneira rápida. Fui parando meus movimentos aos poucos, desfalecendo sobre sua coloração semi-morta. Nos ajeitamos e conseguimos um modo de deitarmos lado a lado. Olhei perdidamente dentro de seus olhos, emoldurados pelo rolo de papel-higiênico Carícia Perfumado.
– Sabe o que eu queria? Que um meteoro cinco vezes maior que o Sol se chocasse agora com a Terra e que a eternidade fosse feita desses azulejos...
Ela riu. Resolvi arriscar uma pergunta disfarçada de afirmação.
– Nunca sei direito qual a cor dos teus olhos. Se verdes ou azuis..
– Pretos. Ficam azuis ou verdes dependendo da lente que eu use.
– É... olhando agora com mais atenção consigo ver que é uma lente.
– Se importa se eu fumar?
– À vontade.
– Tem cigarro?
– Vou pegar.
Coloquei uma das duas cuecas caídas no chão. Não sei se a que eu usava ou ela. Afinal de contas, homem que se preze as tem todas iguais.
Era cedo quando levantei e desci até a garagem para reparar o estrago da noite anterior. Liguei o rádio do carro, escutei 54 minutos de música sem nenhum intervalo comercial. Limpei o banco do carona e lavei os tapetes, sabendo que o cheiro azedo ficaria ainda por algumas semanas. Na volta, entrei pela cozinha e senti cheiro de café. Concluí que ela já teria acordado e fiquei tranqüilo com a certeza de que não teria se atirado pela janela. Entrei despreocupado. Tranqüilo até demais para perceber a luz do banheiro acessa e a porta totalmente aberta. Sua carcaça ressacada estava sentada no vaso sanitário com o queixo apoiado nas duas mãos e os cotovelos sobre os joelhos. A cueca emprestada, caída no chão, presa entre os seus tornozelos. A camiseta grande lhe cobrindo as coxas por completo, dando-lhe uma certa privacidade.
– Desculpe. Quer que feche a porta?
– Uma fulana aí telefonou pra você. O recado está na secretária. "Aqui é a fulana. Quando você puder, me dá uma ligadinha... meu telefone é blá-blá-blá..." Uma voz de piranha! Deve ser uma das tuas amigas...
– Você é uma das minhas amigas. O que você está fazendo aí?
– Vai ver ela é da Amway ou da Herbalife. O que eu estou fazendo? O que você acha? Olha, estou com uma puta dor-de-cabeça... de mau humor. Sai da porta, sai...
– Não tem nada aí que eu não saiba como é.
– Pode ficar, então. Grandes coisas. Não me importo... – falou tentando disfarçar seu constrangimento.
– Posso ver de perto?
– O que você quer ver?
Em um passo já havia entrado no banheiro. Acompanhou-me com o olhar enquanto me ajoelhei à sua frente. Apoiei então os cotovelos sobre os seus joelhos. Conforme distanciei os braços, naturalmente abri suas pernas. Ela soltou os pés de dentro do tecido que lhe prendia. Levantou a camiseta lentamente, até a altura do umbigo. Deu um suspiro profundo. Escorregou sua mão pela minha cabeça, puxando meus cabelos curtos.
– Você já está cheio de cabelos brancos, sabia?
– Por que você faz isso comigo?
– Você sabe... é tarde demais pra gente. Eu sou como... uma prima para você. Isso, uma prima. Você tem primas? - Perguntou passando o dedo médio sobre os seus pêlos pubianos de pequenos caracóis - Achou ela bonita?
– Sim... é muito bem feita. Sem exageros de curvas, sem aquele rococó desnecessário. Você está de parabéns. É uma bela genitália. Escuta, primos se casam. Me dá um beijo. – sugeri enquanto começava a tocá-la com meu indicador.
– Você sempre insiste nessa história. Olha, entende de uma vez por todas. Amigos não se beijam na boca.
– O que é preciso pra que eu não seja mais teu amigo? Me diz, por favor.
– Só não seria mais tua amiga... não sei ... acho que se você me batesse na cara, porque nunca ninguém me deu um tapa.
Trinquei os dentes e espalmei minha mão contra o seu rosto em um único golpe seco. Seus cabelos acompanharam o baque. Olhou-me com profunda admiração. Seu nariz avermelhou, no início de um choro e rapidamente as marcas dos meus dedos tatuaram a brancura esverdeada de sua pele. Soluçou algumas palavras, com um sorriso no rosto.
– Seu filho-da-puta!
Vi suas primeiras lágrimas quando enfiei minha língua dentro de sua boca que se escancarou. Me mordeu e seu aparelho de elásticos coloridos me cortou a boca. Nos beijamos com dentes se batendo. Toquei suas gengivas com o indicador recém-retirado de sua parte elogiada.
– Sente o teu gosto...
Bati o queixo na tábua da privada quando busquei seu sexo. Afastei o rosto para observar uma dessas posições que só as mulheres conseguem. Deitou-se sobre o vaso sanitário, apoiando os pés sobre a parede atrás de mim. Controlada do choro, me pediu para que eu cuspisse na mão e esfregasse a saliva em seus seios.
– Me sinto uma puta!
O português não foi dos mais castiços. Melhor tirar as crianças da sala.
– Mete a mão na minha cara porque eu não quero nada de amizade entre nós. Bate! Bate, porra! Bate que eu estou mandando.
Algo que enerva um homem é uma mulher mandona. O segundo sopapo deu-se com a mão invertida e, desta vez, sua cabeça resvalou na parede, fazendo um som de oco. Rapidamente fiz uma promessa a São Longuinho para que não a perdesse. Por segurança a trouxe para o chão do banheiro, de onde não passaria, segundo o dito popular. Senti que meus joelhos ficariam todos marcados pelas juntas do piso, como medalhas de guerra.
Rotacionou o corpo, colocando-se de quatro. Olhou para trás, me procurando por alguns segundos até que finalmente o coito concretizou-se em penetração indelével. Abaixou a cabeça, falando uma série de palavrões impublicáveis. Determinados processos, depois de iniciados, tendem a resolver-se de maneira rápida. Fui parando meus movimentos aos poucos, desfalecendo sobre sua coloração semi-morta. Nos ajeitamos e conseguimos um modo de deitarmos lado a lado. Olhei perdidamente dentro de seus olhos, emoldurados pelo rolo de papel-higiênico Carícia Perfumado.
– Sabe o que eu queria? Que um meteoro cinco vezes maior que o Sol se chocasse agora com a Terra e que a eternidade fosse feita desses azulejos...
Ela riu. Resolvi arriscar uma pergunta disfarçada de afirmação.
– Nunca sei direito qual a cor dos teus olhos. Se verdes ou azuis..
– Pretos. Ficam azuis ou verdes dependendo da lente que eu use.
– É... olhando agora com mais atenção consigo ver que é uma lente.
– Se importa se eu fumar?
– À vontade.
– Tem cigarro?
– Vou pegar.
Coloquei uma das duas cuecas caídas no chão. Não sei se a que eu usava ou ela. Afinal de contas, homem que se preze as tem todas iguais.
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