Não foi, mas poderia ter sido... episódio 01
Os saltos-altos de Dona Isadora me guiavam como um sonar. Eu sabia em qual cômodo do apartamento ela estava só de acompanhar seu deslocar pelo andar de cima. Essa vigília se transformou em uma obsessão, até que descobri uma coincidência irresistível nos nossos horários. Saíamos simultâneamente de manhã, eu para a escola e ela, acredito, para o trabalho. Logicamente comecei a ajustar meu tempo ao seu, forçando encontros diários no elevador, como se o acaso fosse sistemático.
Ela sequer me olhava, quanto mais dizer "bom dia". Eu então nem conseguia tirar os olhos do tapete. Ficava tímido até para apertar o botão térreo. Confesso que discretamente olhava para suas pernas, sempre embrulhadas a vacuo por um par de meias pretas transparentes. Me torturava uma listra mais escura que subia do calcanhar até dentro de sua saia. Perifericamente eu percebia seus cabelos negros armados de laquê e o excesso de pintura para aquela hora do dia. O cheiro de seu perfume francês anos 50 disputava, aos tapas, com sua murrinha de tabaco o pouco ar do recinto móvel. E isso me dava uma enxaqueca confortável. Mas Dona Isadora tinha presença. Um par de seios sophialoren recheando a camisa acetinada de tom roxo e botões de madrepérola.
Um dia ela falou comigo com a voz de uma legião de demônios roucos.
– Garoto, qual teu nome? Todo dia te encontro nesse elevador.
– Sou seu vizinho do andar de baixo, do 504.
– Mas qual é a sua graça?
– A graça é toda sua.
Respondi cometendo uma das maiores gafes da minha vida. Ela deu uma gargalhada sonora e assim que saiu do elevador já foi sacando uma carteira de cigarros. No caminho da rua insistiu na pergunta que o nervosismo me surdeara.
– Qual teu nome, meu filho?
– Mario, senhora.
– Até amanhã, Mario.
– Até amanhã.
Ela deu uma piscadela e sorriu com somente um dos cantos da boca. Segui até o ponto do ônibus com as pernas trêmulas, a garganta seca e uma história que deixaria todos os meus colegas morrendo de inveja. Desculpem o clichê, mas a primeira vez é inesquecível.
Ela sequer me olhava, quanto mais dizer "bom dia". Eu então nem conseguia tirar os olhos do tapete. Ficava tímido até para apertar o botão térreo. Confesso que discretamente olhava para suas pernas, sempre embrulhadas a vacuo por um par de meias pretas transparentes. Me torturava uma listra mais escura que subia do calcanhar até dentro de sua saia. Perifericamente eu percebia seus cabelos negros armados de laquê e o excesso de pintura para aquela hora do dia. O cheiro de seu perfume francês anos 50 disputava, aos tapas, com sua murrinha de tabaco o pouco ar do recinto móvel. E isso me dava uma enxaqueca confortável. Mas Dona Isadora tinha presença. Um par de seios sophialoren recheando a camisa acetinada de tom roxo e botões de madrepérola.
Um dia ela falou comigo com a voz de uma legião de demônios roucos.
– Garoto, qual teu nome? Todo dia te encontro nesse elevador.
– Sou seu vizinho do andar de baixo, do 504.
– Mas qual é a sua graça?
– A graça é toda sua.
Respondi cometendo uma das maiores gafes da minha vida. Ela deu uma gargalhada sonora e assim que saiu do elevador já foi sacando uma carteira de cigarros. No caminho da rua insistiu na pergunta que o nervosismo me surdeara.
– Qual teu nome, meu filho?
– Mario, senhora.
– Até amanhã, Mario.
– Até amanhã.
Ela deu uma piscadela e sorriu com somente um dos cantos da boca. Segui até o ponto do ônibus com as pernas trêmulas, a garganta seca e uma história que deixaria todos os meus colegas morrendo de inveja. Desculpem o clichê, mas a primeira vez é inesquecível.
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