terça-feira, novembro 09, 2004

Se eu trabalhasse no circo, eu seria o palhaço



Acho tão engraçado quando te olhas no espelho e alisas a barriga reclamando das formas. Ora, estou certo que fazes por pura chantagem, esperando elogios. E quando a blusa te abandona e seguras os seios por baixo, desejando que fossem mais firmes... da mesma forma, é quase uma ironia. Bem sabes que o que mais me agrada é a tua naturalidade. Não fosse assim eu não encheria minhas mãos de tí.
Quando andas pela casa, despreocupada das roupas, me abres um buraco no estômago, uma fome que me dá vontade de te engolir. Definitivamente, desconsidero todos os teus "agora não". Agora sim, guria. Não estava quieto no meu canto? Pois bem, não se brinca com um homem e me darás de comer.
Quando você me virou a mão na cara, confesso que quase estranhei. Afinal, já tinhas me pedido tantas vezes pra fazer exatamente aquilo. E daí se te olhei do jeito que olhei? Não é assim que gostas que eu faça com que te sintas? Então, só atendi às tuas vontades. A meu favor o teu sorriso, logo em seguida.
Por que fazes de conta que não me abrirás as pernas. Sei muito bem onde destranco tuas portas... é como uma brincadeira de fazer parecer exatamente o contrário do que se quer. Pronto. Já estás escancarada à minha frente. Agora és tu que estás com pressa. Pressa de quê? Espera um pouco... vamos jogar o jogo. Deixe que fique somente no hall de entrada, por enquanto.
Por favor, decida onde queres a minha língua. Somente as mulheres são capazes de malabarismos circenses nessas horas. Os homens são naturalmente menos contorcionistas e mais diretos ao ponto. Mas até que me esfoço para acompanhar tuas genialidades.
Confesso, já não sei o que é suór meu ou teu, língua minha ou a tua. Mas se é verdade quando dizes que sou teu dono, então tudo é meu, não faz diferença. Talvez por isso tenhas levado metade de minhas costas nas tuas unhas, em troca de uma mordida no meu ombro. Perigoso negociar contigo – tua política é muito agressiva.
Nem percebes que o cheiro do meu visco exala de dentro das tuas entranhas, enquanto descansas entreaberta, como no quadro de Coubert, dando origem ao mundo. Bom mesmo é te usar de travesseiro, e teus dedos nos meus cabelos e os meus, nos teus pelos. E dormir depois que me contas a mesma história, cada dia de um jeito diferente.
O que vai ser de tudo isto, não tenho a menor idéia. Me levaram a bola-de-cristal. Com o tempo somos só um saco de lembranças e um cheque especial estourado no banco Itaú. O que nos mata é a nossa própria vida. Inimigo mais indestrutível este, não acha? Mas o que nos salva é a vida do outro. Tu és a minha fortaleza e quando te distrais, me escondo dentro de tí. Viver para sí próprio não faz o menor sentido. Acho que só sou quando tu estás.