Será que agora vai? Episodio 02
Em algum tempo já era até de uma certa tranqüilidade falar banalidades com a madame no elevador. Dizia se teria prova, se havia estudado a matéria ou não... Enfim, ela educadamente demonstrava um interesse respeitoso aos meus problemas menores de adolescente. Contudo, a facilidade do contato me tirou certos cuidados, reestabelecidos pelo coro demoníaco de sua voz:
– Mario; o meu decote... pare de olhar para ele.
– Desculpe. Eu não estava...
– Se não estava olhando, por que as desculpas?
– Não sei. Mas acho que não estava não.
– Quer olhar para meu decote, não quer?
Não sabia se tinha olhado ou não. Mas depois que ela tocou no assunto, o desejo tornou-se irreversível. A encarei nos olhos e sacudi a cabeça afirmativamente, como um réu confesso.
– Então olha, meu filho. Não adianta eu dizer que não.
– Obrigado, Dona Isadora.
– Ora, mas é um tarado educado. Pelo menos isso. Posso me aproveitar dessa tua boa educação? Me faz um favor?
– O que a senhora quer?
– Que horas você chega da escola, garoto?
– Quinze pra uma.
– Faz uma coisa pra mim? Toma aqui esse dinheiro. Quando voltar me compra duas carteiras de Charm. Sabe qual é esse cigarro? Um dourado, comprido. Compra e passa no meu apartamento quando chegar do colégio.
– Se souberem lá em casa que eu comprei cigarro...
– Só vão saber se você contar. Eu não vou falar nada pra ninguém. É nosso segredo.
– Tá bom. Eu compro e levo pra senhora.
A aula daquele dia demorou mais que um ano letivo inteiro. Sentia um rombo no estômago que tentei curar com um sorvete no hora do recreio. Comprar aqueles cigarros me faria sentir o maior criminoso do mundo, mas eu não poderia abrir mão de ter um segredo com Dona Isadora.
– Mario; o meu decote... pare de olhar para ele.
– Desculpe. Eu não estava...
– Se não estava olhando, por que as desculpas?
– Não sei. Mas acho que não estava não.
– Quer olhar para meu decote, não quer?
Não sabia se tinha olhado ou não. Mas depois que ela tocou no assunto, o desejo tornou-se irreversível. A encarei nos olhos e sacudi a cabeça afirmativamente, como um réu confesso.
– Então olha, meu filho. Não adianta eu dizer que não.
– Obrigado, Dona Isadora.
– Ora, mas é um tarado educado. Pelo menos isso. Posso me aproveitar dessa tua boa educação? Me faz um favor?
– O que a senhora quer?
– Que horas você chega da escola, garoto?
– Quinze pra uma.
– Faz uma coisa pra mim? Toma aqui esse dinheiro. Quando voltar me compra duas carteiras de Charm. Sabe qual é esse cigarro? Um dourado, comprido. Compra e passa no meu apartamento quando chegar do colégio.
– Se souberem lá em casa que eu comprei cigarro...
– Só vão saber se você contar. Eu não vou falar nada pra ninguém. É nosso segredo.
– Tá bom. Eu compro e levo pra senhora.
A aula daquele dia demorou mais que um ano letivo inteiro. Sentia um rombo no estômago que tentei curar com um sorvete no hora do recreio. Comprar aqueles cigarros me faria sentir o maior criminoso do mundo, mas eu não poderia abrir mão de ter um segredo com Dona Isadora.
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